abril 22, 2007

Textos para reflexão ...

Olá amiguinhos, não temos tido muito tempo para actualizar o nosso blog, pois temos andado atarefados a preparar uma peça de teatro de fantoches sobre o 25 de Abril.

Como este blog também serve para divulgar alguns textos e opiniões sobre assuntos "mais sérios", escolhemos dois textos para reflexão sobre a Escola, a Autoridade e a Violência.


A Escola e a Autoridade


"O problema da Escola em Portugal não é de violência. É sim de falta de autoridade. E a falta de autoridade tanto pode levar ao autoritarismo como ao descrédito da instituição. Num regime autoritário, como o que se viveu em Portugal durante 48 anos (ou em instituições específicas de tipo totalitário como asilos, prisões, casas de correcção, etc), o poder exerce-se pela força e pela ameaça, ou seja, o autoritarismo é a substituição da autoridade pela coerção. Enquanto a autoridade implica consentimento e aceitação, o autoritarismo baseia-se na repressão e no constrangimento exercido sobre o mais fraco. Assim, na escola de Salazar (que eu frequentei) a disciplina exercia-se fundamentalmente dessa forma. Por isso, imperava o medo, que a doutrina oficial deliberadamente confundia com “respeito”.
Com a democracia, o velho modelo autoritário desmoronou-se e pouco tempo depois, após o período revolucionário – em que a autoridade prevalecente era, como então se dizia, “revolucionária” –, surgiram as pedagogias modernas, pretensamente direccionadas para ir ao encontro do aluno e toda uma panóplia de correntes e de metodologias supostamente de vanguarda e pensadas para promover uma educação democrática nas diferentes camadas de adolescentes que frequentam a escola. Paralelamente a isso expandiram-se os modelos de gestão democrática das escolas. A questão da disciplina ganhou então contornos conservadores. Invocar disciplina era sinónimo de atraso e de autoritarismo.
E as ditas pedagogias de proximidade, ao expandirem-se num quadro institucional de facilitação, de incentivo ao aproveitamento escolar por via administrativa, lado a lado com a fraca preparação de muitos professores (muitos deles, em muitas áreas, sem qualquer formação no campo educativo e pedagógico), com a abolição dos exames nacionais, etc, contribuíram para criar nas crianças a ideia (perigosa) de que não era preciso estudar e trabalhar para passar de ano ou de nível de estudos.
Com o alargamento do sistema de ensino e a instituição do 9º ano de escolaridade obrigatória aumentaram os problemas, cresceram as taxas de abandono e cresceu a indisciplina.
A par de tudo isso, as alterações estruturais na sociedade portuguesa, a concentração urbana, a desertificação do interior, os problemas de pobreza, as migrações, a marginalidade e a toxicodependência, o alcoolismo, a violência doméstica, etc., tiveram incidências muito profundas no meio escolar. Por outro lado, a recomposição familiar, com a redução do número de filhos e a atitude “protectora” dos pais, caminharam lado a lado com as lutas reivindicativas dos professores, a instabilidade do corpo docente e também a falta de meios e infraestruturas modernas, em especial nas zonas periféricas dos principais centros urbanos e em diversas regiões do interior.
A escola como instituição perdeu autoridade e o professor deixou de personificar essa mesma autoridade na sala de aula. Estou em crer que é em larga medida devido a essa falta de autoridade do professor que o sistema entrou em crise e que as taxas de abandono e insucesso são tão elevadas em Portugal. Sem dúvida que a questão é muito complexa e há toda uma gama de problemas sociais associados a isso. Mas não duvido que houve um largo período de laxismo e de facilitismo, largamente da responsabilidade dos vários governos, que determinaram a situação de falhanço e de incapacidade a que se chegou".

(conceitos a explorar: autoridade; disciplina; escola e violência).
Texto publicado por Elisío Estanque (Sociólogo e professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra), no blog boasociedade.blogspot.com

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